ESTUDANDO A PALAVRA

ESTUDANDO A PALAVRA

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

PROJETO TRADUÇÃO DE ARTIGOS E LIVROS.

O DISPENSACIONALISMO PROGRESSIVO

E A TRADIÇÃO DISPENSACIONAL

Oscar A. Campos R.*

Tradução: João Ricardo Ferreira de França.ª



O dispensacionalismo progressivo[1] é uma variante que se tem desenvolvido dentro do sistema teológico conhecido como “dispensacionalismo”. O surgimento deste novo tipo de dispensacionalismo tem sido e continuará sendo controverso por algum tempo. O que é o dispensacionalismo progressivo? É uma modificação do dispensacionalismo já conhecido ou é simplesmente um novo nome para o mesmo sistema?

Se existe algo novo no dispensacionalismo progressivo por que seria isso necessário? E se não há nada de novo por que criar essa controvérsia? Por que lhe tem chamado de “progressivo”? Qual é a relação existente entre este novo dispensacionalismo e o anterior? O que tem passado nas entrelinhas do famoso dispensacionalismo popular que muitos ainda não viram? Todas estas perguntas são necessárias para analisar sem ingenuidade o que agora se conhece como dispensacionalismo progressivo. Neste artigo se darão algumas pautas para essa análise. Os temas serão apresentados de uma maneira geral e simples, ainda que correndo o risco de cair no simplismo devido as limitações do assunto.

A relevância do tema para a América Latina se torna evidente ao considerar a influência que o dispensacionalismo tem exercido sobre a população evangélica do continente, especialmente a nível bem popular. O dispensacionalismo chegou a esta parte do mundo especialmente através do movimento das missões de fé que se originaram na Inglaterra e majoritariamente na América do Norte[2] . Por essa razão, e por falta de espaço, este artigo será somente uma introdução ao dispensacionalismo limitando-se ao dispensacionalismo na América do Norte.[3]



TRADIÇÃO DISPENSACIONAL.



           Em primeiro lugar, se deve reconhecer que o dispensacionalismo progressivo não se dá em um vazio histórico-teológico. Esta nova variante, como o próprio nome indica, está relacionado com o já conhecido “dispensacionalismo”. Ainda que mais adiante se perceberá no que consiste esta essa relação, é evidente que o dispensacionalismo progressivo nasce dentro de sua própria tradição teológica, a tradição dispensacional.

          Não existe uma data clara ou exata que marque o início do dispensacionalismo progressivo como novo esquema teológico, o certo é que este é um desenvolvimento relativamente recente como produto do diálogo e da reflexão teológica no qual se tem encontrado nos últimos anos em alguns círculos dispensacionalistas.[4] O anterior demostra que qualquer sistema teológico que se exponha ao escrutínio constante das Escrituras não pode encontrar-se dogmatizado nos livros de teologia sistemática. Pode-se dizer que nos últimos anos de maneira especial a teologia bíblica tem convidado as “teologias sistemáticas” para uma auto-avaliação. O dispensacionalismo progressivo poderia ser um resultado disto.



História



           A história do dispensacionalismo pode-se relacionar com o ressurgimento do movimento milenarista no século XIX.[5] Uma fase inicial do milenarismo se deu nos princípios deste século na Inglaterra e na América do Norte o que levou o desenvolvimento do pré-milenismo histórico ou historicista aos meados do século XIX.[6] A ênfase nesta classe de pré-milenismo consistiu em identificar os eventos personagem proféticos com aqueles da história contemporânea, chegando ao extremo de predizer datas para a volta de Cristo.[7] Ao fracassar as predições, o movimento milenarista decaiu, por algum tempo.

          O ressurgimento do milenarismo (como uma Segunda etapa) se voltou a ter aceitação um pouco tardia com a expansão de um pré-milenismo futurista no qual a ênfase se dava na volta futura de Cristo a qualquer momento, sem a intenção de determinar datas baseadas nas interpretações de acontecimentos históricos do momento. Um dos principais proponentes deste movimento foi John Nelson Darby.

No fim do século XIX surgiu na América do Norte o movimento das Conferências Bíblicas e Proféticas onde o pré-milenismo futurista encontrou ampla acolhida. Foi nesse movimento de onde o fundamentalismo norte-americano também se fortaleceu. A conferência bíblica do Niágara (Niagara Bible Conference) acontecia todo o período do fim do verão. Crentes de diferentes denominações e lugares da América do Norte chegavam para dedicar-se ao estudo da Bíblia e para adoração. As discussões normalmente se apresentavam como exposições bíblicas e nelas se incluíam os temas proféticos entre os quais o dispensacionalismo foi promovido.

Darby, considerado o pai do dispensacionalismo moderno, e James Brooks um dos fundadores e presidente de Niagara Bible Conference, foram uns dos principais promotores do dispenscionalismo. Agora, é possível identificar pelo menos quatro fases na tradição dispensacional. Foi nesse contexto que C.I. Scofield e mais tarde Lewis Sperry Chafer (através de Scofield) encontrariam seu caminho dentro do dispensacionalismo. Agora, se podem identificar pelo menos quatro fases na tradição dispensacional:

A primeira, é a do pré-milenismo relacionado com o movimento da Conferência Bíblica do Niagara. Este era um pré-milenismo futurista e dispensacional ao que agora se chama dispensacionalismo pré-Scolfieldiano.

A Segunda fase, é a que se tem denominado de Scofield ( Scofieldianismo). Também tem sido chamado de dispensacionalismo clássico ou tradicional. Este é o dispensacionalismo que mais se estendeu e popularizou-se através da Bíblia de Referência de Scofield. A Bíblia de Scofield chegou a ser a representação clássica e tradicional do movimento que apartir daí cunhou o sistema chamado de dispensacionalismo. Segundo Scofield, esta publicação era uma coleção das doutrinas discutidas no movimento das conferências bíblicas feita para que servisse como ferramenta de estudo no movimento missionário que estava no auge (o movimento das missões da fé).

A terceira fase, compreende o período aproximado entre 1963 a 1985. A característica distintiva desta fase é a publicação de Dispensacionalismo Hoje em 1965 por Charles C. Ryrie. A esta fase tem sido chamada de essencialista devido a posição sine qua non apresentado no livro; ou revisado, devido as diferenças entre este dispensacionaismo e o de Scofield. Ryrie trata o que considera como elementos essenciais do dispensacionaismo desse tempo.

A Quarta fase, é a presente. Uma data simbólica de inicio (já mencionada) poderia ser 1985. A esta fase foi chamada inicialmente pós-essencialista, porém agora é amplamente conhecida como a fase do dispensacionalismo progressivo.

O propósito deste artigo é precisamente nos introduzir no conhecimento do dispensacionalismo progressivo para o qual era necessário ligá-lo dentro de sua tradição teológica, a tradição dispensacionalista.



Distintivos (distinções)

Ao identificar diferentes fases ou etapas dentro da tradição dispensacional se torna evidente que existe um desenvolvimento teológico dentro desta tradição. Os dispensacionalistas progressistas argumentam que o desenvolvimento é normal e apropriado , no entanto, os dispensacionalistas de fases anteriores declaram não estarem de acordo com esta postura e questionam o surgimento do dispensacionalismo progressivo. Contudo, desde uma perspectiva histórica, se podem encontrar algumas distinções próprias da tradição dispensacional que se tem mantido vigentes ao longo das diferentes etapas:



É uma tradição que se tem enfocado na Igreja Universal como o esquema para a unidade e espiritualidade, buscando sua manifestação prática em formas que não entrem em conflito com o conceito da Igreja local. Tem defendido a autoridade das Escrituras e tem recalcado a relevância teológica da apocalíptica bíblica e a profecia. É um pré-milenismo futurista que tem sustentado firmemente o retorno iminente de Cristo e um futuro nacional e político para Israel no plano divino da história. Está caracterizado por uma aproximação canônica das Escrituras que interpreta descontinuidades entre o Antigo e o Novo Testamentos como mudanças históricas nas dispensacões divino-humanas refletindo diferentes propósitos no plano divino. Como um elemento de mudança dispensacional, se tem enfatizado os elementos singulares na graça para a presente dispensação da Igreja.



Ainda que as distinções do dispensacionalismo se tem expressado de diferentes formas em diferentes épocas, parece que a descrição anterior as apresenta adequadamente em referência a tradição dispensacional em geral.



Desenvolvimento



O dispensacionalismo de Scofield se caracterizou pelo pré-milenismo, o arrebatamento pré-tribulacional da Igreja, e os dois povos de Deus, entre outras doutrinas. A doutrina dos dois povos de Deus servia para explicar a diferença entre Israel e a Igreja, e as sete dispensacões históricas na interpretação bíblica.

Ryrie, em sua obra clássica Dispensacionalismo Hoje, fez uma evolução do dispensacionalismo e apresentou o que ele considerava seus elementos essenciais chamando-os de sine qua non; os quais, em seu critério, definiam o que o dispensacionalismo realmente é. Estes elementos são: primeiro, uma interpretação literal ou normal consistente com toda a Bíblia; Segundo, a diferença entre Israel e a Igreja; e terceiro, um tema bíblico general na história, a glória de Deus (propósito doxológico de Deus na revelação). A distinção entre um povo de Deus celestial e um terreno, os quais também tinham destinos eternos separados, um celestial e o outro terrano, foi revisada por Ryrie. O dispensacionalismo continuou afirmando o pré-milenismo, o arrebatamento pré-tribulacional, da Igreja e as dispensacões históricas. Ryrie afirmava que o número das dispensacões não era um assunto determinante, porém que ele, todavia, preferia usar as sete dispensações propostas por Scofield.

Na decáda dos anos oitenta, alguns dispensacionalistas se deram ao trabalho de reexaminar o esquema da tradição dispensacional, especialmente a luz do sine qua non (elementos essenciais) proposto por Ryrie. Princípios de teologia bíblica e de hermenêutica histórico-literária serviram para a dita análise.

Eles concluíram que uma interpretação literal ou normal consistente conhecida como histórico-gramatical segue sendo a meta do dispensacionalismo, mas tal tarefa não se limita ou é exclusiva do esquema teológico do dispensacionalista. O propósito doxológico de Deus na revelação, ou a glória de Deus como tema principal da Bíblia, é um bom esquema bíblico, porém tão pouco está limitado ou é exclusivo do dispensacionalismo. Também existem outros tema bíblicos fundamentais e propósitos de Deus na história (i.e., salvação). No entanto, o tema bíblico geral que toma prioridade no dispensacionalismo contemporâneo (progressivo), da acordo com os propósitos de Deus na história é, o Reino de Deus. Desta maneira, o compromisso para a interpretação consistente gramático-histórica (levando em conta discussões na hermenêutica contemporânea) que vem do compromisso com a autoridade das Escrituras se continua afirmando no dispensacionalismo.

Segundo o dispensacionalismo progressivo, o compromisso à interpretação consistente (gramático-histórica) conduz a manter as distinções entre Israel e a igreja. Estas distinções são importantes na teologia bíblica. Contudo, também se reconhece que há conexões entre Israel e a igreja. Isto se entende como um resultado normal de uma metodologia hermenêutica consistente que corrige o sistema teológico mantendo o que é necessário e modificando o que deve ser modificado. Desta maneira, se descobre que uma virtude da tradição dispensacional é que ela não permanece estática mais que se renova a si mesma.







DISPENSACIONALISMO PROGRESSIVO.



A luz dos desenvolvimentos internos da tradição dispensacional, se fez necessário redefinir o dispensacionalismo. Blaising e Bock tem sido uns dos teólogos que tem estado a frente deste movimento que redefinu e desenvolveu o dispensacionalismo como “dispensacionalismo progressivo”. Eles afirmaram que o desenvolvimento dentro da tradição dispensacional ... “Nos dirige para a busca de uma definição do dispensacionalismo, uma que inclua as diferentes manifestações históricas da tradição e que coloque em perspectiva o surgimento desta forma pós-essencialista do dispensacionalismo”. Eles aditam:



...o que está tomando lugar agora é o surgimento de uma nova fase na história do dispensacionalismo americano. A complexidade da situação é tal que um novo entendimento bíblico de Israel e Igreja, uma mudança no método para definir o dispensacionalismo, e o surgimento de um novo dispensacionalismo são todos elementos inter-relacionados de um mesmo fenômeno.

História



O surgimento do dispensacionalismo progressivo como parte do desenvolvimento histórico-teológico que se tem ocorrido dentro da tradição dispensacionalista, já fora explicado nas páginas precedentes. Tem sido nos últimos anos que este movimento se tem colocado em evidência através do Grupo de Estudo Dispensacional do ETS (Evangelical Theological Society) e das publicações de Blaising, Bock e Saucy que também já foram mencionados. Os dispensacionalistas progressivos afirmam manter o compromisso de manter o desenvolvimento teológico seguindo os princípios de uma teologia bíblica consistente e de uma hermenêutica confiável e séria que corresponda à tradição evangélica.

O dispensacionalismo progressivo não se apresenta como um produto final ou acabado. Começou seguindo a agenda apresentada por Ryrie em seu livro Dispensacionalismo Hoje (Publicado no Brasil pela CPAD). Depois se trabalhou fortemente o tema do Reino de Deus, o qual proveu o fundamento para definir o dispensacionalismo progressivo. No entanto, muitos detalhes não se tem trabalhado. As discussões teológica vão continuar para desenvolver uma apresentação sistemática deste dispensacionalismo, porém, os fundamentos já tem sido colocados.



Desenvolvimento



O dispensacionalismo progressivo compartilha com a tradição dispensacional seus elementos comuns (pré-milenismo, diferença entra Israel e a igreja, arrebatamento pré-tribulacional da igreja, etc.) . E além disso, atualiza-se para responder as novas perspectivas exegéticas e críticas. A revisão de seu método hermenêutico é o fundamento de suas conclusões teológicas dispensacionalistas. A autoridade das Escrituras permite mudanças nas conclusões teológicas dispensacionalistas. Se reafirma a convicção de manter a tradição dispensacionalista sob o contínuo exame bíblico.

O dispensacionalismo progressivo compartilha com a sua tradição evangélica a hermenêutica histórico-literária ( histórico-gramatical ). Sua aplicação consistente continua sendo sua meta ( o qual já se tem conhecido que não é exclusivo do dispensacionalismo). O dispensacionalismo progressivo assegura levar a sério o papel da teologia bíblica que por sua vez considera o progresso da revelação, e, está mais consistente dos debates hermenêuticos contemporâneos levando-os em conta em sua reflexão teológica.

O dispensacionalismo progressivo é mais cristocêntrico em sua hermenêutica (provavelmente um dos elementos recuperado que esteve presente no inicio da tradição dispensacionalista). O tema central do Reino de Deus integra a teologia do Antigo e Novo Testamentos. Se afirma que Cristo, o rei, é o agente, diretor, e o cumprimento da mudança dispensacional.

De acordo com o dispensacionalismo progressivo, em Jesus Cristo se cumprem as promessas do Antigo Testamento. Ele inaugura a presente dispensação do “espírito escatológico” através de sua expiação, ressurreição e entronização. Jesus regressará para completar “a restauração de todas as coisas”. Desta forma, o esquema antropocêntrico das primeiras fases do dispensacionalismo que se encontrava em dois povos de Deus, tem mudado para um esquema cristológico centralizado no plano de Deus através de Cristo. Blaising e Bock dizem:



O movimento do passado ao pressente e depois as futuras dispensacões não se deve a um plano para duas classes diferentes de povos, mas que em lugar disso se deve a história de Cristo cumprindo o plano da redenção integral em fase progressivas (dispensações).



Distintivos (Distinções)



1. Dispensações.



O termo “progressivo”, para este novo entendimento do dispensacionalismo, vem precisamente de uma de suas distinções: A relação progressiva entre as dispensacões. Uma dispensação avança o plano divino anterior. O dispensacionalismo progressivo caminha por três claras dispensacões bíblicas: A passada, a presente e a futura.



O qualificativo Dispensacionalismo Progressivo se tem sugerido devido a maneira na qual este dispensacionalismo olha a inter-relação das dispensações divinas na história, sua orientação geral sobre o reino eterno de Deus ( a qual é a final, eterna dispensação abraçando a Deus e a humanidade) e a reflexão destas históricas e escatológicas relações nos elementos literários da Escritura.

Há três dispensacões claramente definidas (ainda que o número era aberto no princípio da tradição, se institucionalizou o reconhecimento de sete dispensacões com Scofield). Estas três dispensacões que sustenta o dispensacionalismo progressivo, estão centralizadas em Cristo (o cristocentrismo já mencionado deste novo esquema de progresso).



A dispensação anterior antecipou e logo o presenciou. Depois de sua ascensão à destra do Pai, Cristo inaugurou a presente dispensação de sua vinda, o Dom do Espírito Santo. A futura dispensação é a dispensação de seu regresso e seu governo consumador.

Esse progresso entre dispensação e dispensação se percebe primeiramente na relação que continua desde a passada dispensação até a presente. Há uma “mudança entre Deus e a humanidade na dispensação que emerge do evento Cristo”. Há uma novo estado de cosas (Novo Testamento). Cristãos gentios e o remanescente de Israel (Cristãos) recebem juntos as bênçãos do novo pacto que se tem inaugurado. A teologia bíblica mostra que essas bênçãos são “novas” e que são um avanço do antigo pacto.

Para o dispensacionalismo progressivo, a presente dispensação é o cumprimento das promessas a respeito de Israel e os gentios que foram feitas na dispensação anterior (isto é o pacto mosaico). Há continuidade através do progresso, o progresso no cumprimento das promessas e o progresso da nova revelação.

Em segundo lugar, também há uma relação progressiva que continua desde a presente até a futura dispensação. No Novo Testamento, a presente dispensação não se apresenta como a redenção final. Existe uma expectação de uma futura dispensação em que se consumará a era presente. Há “continuidade entre a dispensação presente da Igreja e a dispensação futura na qual todas as coisas nos céus e na terra estarão unidas em Cristo”.

Segundo os dispensacionalistas progressivos, a continuidade se expressa em termos do novo pacto, que une ambas dispensações (Chafer, um dispensacionalista da fase Scofieldiana ou clássica, ensinou que haviam dois novos pactos distintos). Esta unidade também é vista em alguns aspectos do reino messiânico que vem desde o presente. As dispensações presente e futura são vistas no Novo Testamento como cumprimento do pacto davídico.

A dispensação presente se entende como a inauguração do Reino de Deus no ministério, morte, ressurreição e a vinda do Espírito Santo ( a promessa do Pai no novo pacto). O “já” do reinado de Cristo. A futura dispensação é vista como a consumação desse Reino que “todavia não” é a experiência da presente realidade. A futura dispensação inclui os aspectos políticos e nacionais do Reino prometidos a Israel. No “já e todavia não” da teologia neotestamentária há progresso e mudança dispensacional. Considerando tudo antes, a igreja já não é considerada como um parêntesis no plano de Deus e o pré-milenismo continua sendo mantido como outro dos elementos mais importantes da tradição profética e escatológica do dispensacionalismo.

A presente dispensação também integra todos os pactos na redenção inaugurada nesta dispensação e que será consumada na futura. Esta é a unidade do novo pacto e o cumprimento dos pactos mosaicos e abraamico. O conceito de redenção é mais amplo que antes da tradição dispensacional, vindo a ser o conceito mais integral. A redenção se concebe para o homem total, não somente para a alma como nos aproximamentos dualistas das tendências passadas. Neste conceito de redenção, se incorporam dimensões sociais e corporativas do ser humano.

O dispensacionalismo progressivo também assinala a continuidade entre o milênio e o reino eterno. A diferença é considera ser mais em grau do que em classe (milênio e nova terra). Não se enfatiza a mudança do material para o espiritual, mas a de se consumar a plena redenção. Desta maneira, a futura dispensação é vista como uma unidade, não como duas dispensações separadas, ainda que se reconheça as diferenças.



2. Israel e a igreja.



A distinção entre Israel e a igreja permanece como elemento chave no dispensacionalismo progressivo. No entanto, há alguns elementos novos nessa distinção como também alguns aspectos novos de continuidade.

O Novo Testamento mantém a expectação de um cumprimento ainda futuro das promessas políticas e nacionais feitas a Israel. A relação entre Israel e a igreja é uma relação progressiva, ainda que a ideia de dois povos de Deus como duas humanidades diferentes com destinos paralelos (um povo com destino celestial e outro povo com destino terreno) já tem sido rejeitado na tradição dispensacional.

A distinção entre Israel e a igreja se considera como uma distinção primeiramente de duas agrupações humanas dispensacionais com o mesmo destino. A primeira agrupação é Israel na dispensação anterior, na qual os gentios estavam alienados ou subordinados ao povo de Deus. A Segunda agrupação são os judeus e gentios como iguais, na presente dispensação na que não há benções nacionais per se. Acerca da relação entre Israel e a igreja na futura dispensação, é-no dito o seguinte:

A relação progressiva destas duas dispensações até a futura dispensação do cumprimento do reino sugere que a igualdade de judeus e gentios no ministério regenerador, renovador, Cristo-unificador do Espírito Santo será ao mesmo tempo conduzido até o futuro e amplificado (glorificação), porque esta é uma benção de um novo pacto que une ambas dispensações.

Como já se tem mencionado, no dispensacionalismo progressivo, a dispensação futura inclui as benções políticas e nacionais para Israel com Cristo reinando sobre Israel e as nações desde Jerusalém. A igreja na presente dispensação é uma união em Cristo por meio do Espírito Santo, uma nova humanidade de pluralidade racial. Esta pluralidade não anula as promessas Israel. A igreja não tem substituído a Israel, e suas promessas se cumprirão no futuro. De acordo com Blaising e Bock, “a dispensação final é uma na qual todas as coisas são unidas em Cristo. Esta não é uma unidade que remove todas as distinções possíveis e sim uma que as harmoniza de uma forma que nunca antes foi vista”.



CONCLUSÃO

O dispensacionalismo progressivo é um dispensacionalismo renovado. Seu ponto de partida tem sido uma revisão de sua hermenêutica. Seu trabalho exegético o levou a descobrir nas Escrituras um esquema de três dispensacões interrelacionadas (continuidade e descontinuidade) em uma forma progressiva (daí seu nome). Sua hermenêutica cristocêntrica o levou a centrar seu esquema no tema do Reino de Deus. Esse progresso dispensacional está relacionado com os temas principais da tradição dispensacional e a teologia bíblica.

Todavia, ainda que haja muitas áreas abertas para futuros trabalhos, as implicações derivadas da teologia do dispensacionalismo progressivo prometem. O reconhecimento de um aspecto presente do Reino de Deus exige uma revisão da tarefa missionária da igreja dentro da tradição dispensacional como tem ocorrido em outras tradições (tipo dos pactuais – nota do tradutor) . O dispensacionalismo progressivo tem desenvolvido um esquema bíblico que se coloca em sintonia com as teologias contemporâneas da missão integral da igreja. Perguntas tais como: em quê consiste o aspecto presente do Reino de Deus e qual é a esfera do seu domínio? Qual é o papel da igreja e quais são os limites de sua missão com relação a esse aspecto presente do Reino de Deus? São perguntar que terão que ser contestada mais cedo ou mais tarde dentro do dispensacionalismo progressivo.

Devido a relação histórica entre o dispensacionalismo norte-americano e o dispensacionalismo latino-americano, as implicações derivadas do dispensacionalimo progressivo são e serão muito importantes no continente. Na América Latina, onde a missão integral da igreja já um princípio missiológico amplamente estabelecido, o dispensacionalismo se tem visto na retaguarda teológica. No entanto, o dispensacionalismo progressivo provê os alinhamentos biblico-teológicos (especialmente como tema bíblico do Reino de Deus) para a atualização da missiologia integral da igreja dentro do ambiente dispensacionalista e ainda fora dele.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O TEONOMISMO - IMPLICAÇÕES TEOLÓGICAS.

Um cristão reconstrucionista é um calvinista. Ele sustenta o Cristianismo histórico, ortodoxo e católico e as grandes confissões Reformadas. Ele crê que Deus, não o homem, é o centro do universo e de tudo o que existe; Deus, não o homem, controla tudo o que acontece; Deus, não o homem, deve ser agradado e obedecido. Ele crê que Deus salva pecadores. Ele não os ajuda a se salvarem. Um cristão reconstrucionista crê que a Fé deveria ser aplicada a tudo da vida, não apenas ao lado “espiritual”. Ela se aplica à arte, educação, tecnologia e política tanto quanto se aplica à igreja, oração, evangelismo e estudo bíblico.
Um cristão reconstrucionista é um teonomista. Teonomia significa “lei de Deus”. Um cristão reconstrucionista crê que a lei de Deus é encontrada na Bíblia. Ela não foi abolida como um padrão de justiça. Ela não mais acusa o cristão, visto que Cristo suportou sua penalidade na cruz por ele. Mas a lei é uma descrição do caráter justo de Deus. Ela não pode mudar, assim como Deus não pode mudar. A lei de Deus é usada para três propósitos principais: Primeiro, para levar o pecador a confiar em Cristo somente, o único que guardou a lei perfeitamente. Segundo, para fornecer um padrão de obediência para o cristão, pelo qual ele possa julgar seu progresso na santificação. E terceiro, para manter a ordem na sociedade, restringindo e punindo o mal civil.
Um reconstrucionista cristão é um pressuposicionalista. Ele não tenta “provar” que Deus existe ou que a Bíblia é verdadeira. Ele sustenta a Fé porque a Bíblia assim o diz, não porque possa “provar” isso. Ele não tenta convencer o não convertido de que o evangelho é verdadeiro. Eles já sabem que o mesmo é verdadeiro quando ouvem. Eles precisam de arrependimento, não de evidência. Sem dúvida, o Reconstrucionismo Cristão crê que há evidência para a Fé; de fato, não há nada senão evidência para a Fé. Dessa forma, o problema para o não convertido não é falta de evidência, mas falta de submissão. O cristão reconstrucionista começa e termina com a Bíblia. Ele não defende a “teologia natural”, e outras invenções designadas para encontrar alguma concordância com a humanidade apóstata violadora do pacto.
Um reconstrucionista cristão é um pós-milenista.
(Com quanto eu discordo aqui - o verdadereiro reconstrucionista é amelinista preterista) Ele crê que Cristo retornará à Terra somente após o Espírito Santo ter capacitado a Igreja a avançar o reino de Cristo no tempo e na história. Ele tem fé que os propósitos de Deus de trazer todas as nações, embora nem todo indivíduo, em sujeição a Cristo não falharão. O cristão reconstrucionista não é utópico. Ele não crê que o reino avançará rapidamente e sem problemas. Ele sabe que entramos no reino por meio de muita tribulação. Sabe que os cristãos estão na luta pela “longa caminhada”. Crê que a igreja pode ainda estar em sua infância. Mas ele crê que a Fé triunfará. Sob o poder do Espírito Deus, ela não pode alcançar nada senão o triunfo.
Um reconstrucionista cristão é um dominionista. Ele toma seriamente os mandamentos da Bíblia aos justos para tomar o domínio na Terra. Esse é o objetivo do evangelho e da Grande Comissão. O cristão reconstrucionista crê que a terra e toda a sua plenitude é do Senhor: que cada área dominada pelo pecado deve ser “reconstruída” em termos da Bíblia. Isso inclui, primeiro, o indivíduo; segundo, a família; terceiro, a igreja; e quarto, a ampla sociedade, incluindo o Estado. Portanto, o cristão reconstrucionista crê fervorosamente na civilização cristã. Crê firmemente na separação da Igreja e Estado, mas não na separação do Estado (ou qualquer outra coisa) de Deus. Ele não é um revolucionário; não crê no sobrepujar forçado e militante do governo humano. Ele tem armas infinitamente mais poderosas que revólveres e bombas, pois tem o Espírito invencível de Deus, a Palavra infalível de Deus, e o Evangelho incomparável de Deus, nenhum dos quais pode falhar.
O reconstrucionista cristão enfatiza os direitos régios do Senhor Jesus Cristo em cada esfera, esperando o triunfo eventual.
Tradução de Felipe Sabino de Araújo Neto (17/03/2009)